Se vivesse, Ary dos Santos comemoria hoje 72 anos. Pródigo letrista e poeta, entre outros, a partida precoce não o impediu de deixar obra vasta e marcante. Genial na orquestração das palavras, na erupção de sentimentos ou na expressão de estados de alma, Ary é um vulto incontornável do património literário português. E que outras palavras, senão as suas, seriam melhores para o homenagear? Aqui fica, pois, uma homenagem ao Poema e ao Poeta.
(No teu poema)
No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.
(…)
No teu poema existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.
(…)
Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria.
(…)
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
(…)
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.
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