16 de junho de 2011

Paraíso de um poeta maior

[David Mourão-Ferreira (24/02/1927 - 16/6/1996),
Paraíso In "Infinito Pessoal", 1959-1962]
.
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
.

(Imagem daqui)

12 comentários:

  1. Sem comentários. Simplesmente belo.
    Bom aprender assim.

    5 bjs

    ResponderEliminar
  2. Sublime! Sublime na expressão do querer e sublime na expressão do desprendimento.
    Um poeta maior, dizes bem.
    Um beijinho e que tenhas um bom resto de semana!

    ResponderEliminar
  3. R,
    Belo, muito belo!
    Bom fim-de-semana. :)

    ResponderEliminar
  4. Boa noite, R.

    O fim de semana passado, a RTP 2 fez uma programa conduzido pela Paulo Moura Pinheiro como tema da obra de David Mourão Ferreira.

    Hei-de vê.lo no site da RTP.
    Apanhei-o de raspão no Hotel na Covilhã e tive pena de não o ter podido acompanhar.

    O DMF é um dos meus poetas preferidos.
    Escreve deliciosamente.
    De uma actualidade inexcedível.
    Um príncipe nos ambientes dos afectos e da volúpia. e de tantas outras emoções da nossa tão veemente condição humana.
    Que bom, sendo assim,poderm,os ter ao nosso dispor quem nos mostro, afinal como podemos, desejamos e nos congratulamos ser, partilhar e constituir cumplicidades tão fulgurantes.

    Nota de rodapé:

    A Serra está lindíssima;
    As cerejas estão deliciosas;
    As manhãs resplandeceram
    E nós estivemos à beira da felicidade.
    Pouco faltou para ouvir ecos da «Pastoral» do Beethoven no tão celebrado glaciar do Zêzere, a descer para Manteigas.

    Quanto ao comentário da «Pipoca» -- Pura diversão -- ainda bem que gostaste. Ès sempre de uma generosidade inesquecível.
    Bem hajas.
    Bjs

    ResponderEliminar
  5. Grande, imenso poeta. Para reler todas as primaveras (minha preferência...)
    Vi o programa que o JPD refere, mas os interlocutores não estiveram à altura do poeta, achei.

    ResponderEliminar
  6. Procura a rosa.

    Onde ela estiver

    estás tu fora

    de ti. Procura-a em prosa, pode ser



    que em prosa ela floresça

    ainda, sob tanta

    metáfora; pode ser, e que quando

    nela te vires te reconheças



    como diante de uma infância

    inicial não embaciada

    de nenhuma palavra

    e nenhuma lembrança.



    Talvez possas então

    escrever sem porquê,

    evidência de novo da Razão

    e passagem para o que não se vê.



    Manuel António Pina, in "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"

    ResponderEliminar
  7. Sinto falta dos teus posts e da tua companhia aqui na blogolândia. :(
    Era só isto.
    Beijo. Grande. :)

    ResponderEliminar
  8. Oi R,

    Passamos porque estamos com saudade.
    Esteja bem.
    bj

    ResponderEliminar