31 de outubro de 2010

Aroma a... livro

No 'Qureridas Bibliotecas' deparei com esta citação que não resisto a partilhar:
.
Os livros só têm dois cheiros: o cheiro a novo, que é bom,
e o cheiro a usado que é ainda melhor.
.
(Ray Bradbury, in “Babélia”, 25/7/2009)

30 de outubro de 2010

É a chuva chovendo...

...e o antídoto, contra eventuais efeitos nefastos, na forma da candura e boa disposição destes dois grandes e memoráveis nomes.


É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o MatitaPereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
pau, pedra, fim, caminho
resto, toco, pouco, sozinho
caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.

(Tom Jobim, Águas de Março, 1972)

24 de outubro de 2010

Seis segundos

A cada seis segundos uma criança morre de fome algures no mundo. Esta semana as associações europeias de futebol unem-se no combate a este flagelo. Abaixo deixo-vos o vídeo de promoção e ainda a campanha de 2005 para a erradicação da pobreza, com um esclarecimento eloquente de Bono. Perdoem-me a falta de tempo para aqui vir ou para vos visitar, mas neste particular o tempo não nos escusa de responsabilidades. O link também aqui fica para os que pretenderem associar-se à petição. Desde já, bem hajam pelo vosso comprometimento.

'One billion hungry' é a campanha da FAO que alerta para a existência de mil milhões de pessoas com fome e cuja petição pode assinar-se aqui.




15 de outubro de 2010

13 de outubro de 2010

Aos nossos...

.
And say
my glory
was I had such friends.

(William Butler Yeats)


(... e, perdoem-me o orgulho, em particular... aos meus, que são os melhores do mundo.)

9 de outubro de 2010

Vacilante...

.
Un amor indeciso se ha acercado a mi puerta...
Y no pasa; y se queda frente a la puerta abierta.

Yo le digo al amor: -¿Que te trae a mi casa?
Y el amor no responde, no saluda, no pasa...

Es un amor pequeño que perdió su camino:
Venía ya la noche... Y con la noche vino.

¡Qué amor tan pequeñito para andar con la sombra!...
¿Qué palabra no dice, qué nombre no me nombra?...

¿Qué deja ir o espera? ¿Qué paisaje apretado
se le quedó en el fondo de los ojos cerrado?

Este amor nada dice... Este amor nada sabe:
Es del color del viento, de la huella que un ave

deja en el viento... -Amor semi-despierto, tienes
los ojos neblinosos aun de Lázaro... Vienes

de una sombra a otra sombra con los pasos trocados
de los ebrios, los locos... ¡Y los resucitados!

Extraño amor sin rumbo que me gana y me pierde,
que huele las naranjas y que las rosas muerde...,

Que todo lo confunde, lo deja... ¡Y no lo deja!
Que esconde estrellas nuevas en la ceniza vieja...

Y no sabe morir ni vivir: Y no sabe
que el mañana es tan sólo el hoy muerto... El cadáver

futuro de este hoy claro, de esta hora cierta...
Un amor indeciso se ha dormido a mi puerta...

(Dulce Maria Loynaz, 'Amor Indeciso' in 'Poesia Completa', 1993)

7 de outubro de 2010

do latim, 'Angelus'

(Christine Müller-Stosch, Der Engel, 1995)
.
Acredite-se ou não neles, a ideia de um anjo é muito reconfortante. Essa crença mágica num ente protector que cuida e ampara, põe a salvo do perigo e nos vela no sono ou na doença, é profundamente apaziguadora. Durante anos acreditei piamente nos anjos. Foi a estratégia que adoptei quando aos sete anos o meu anjo vivo se imaterializou. ‘Foi para o céu’ – disseram-me. E eu acreditei. Passei a falar-lhe a todo o momento, a mostrar-lhe as descobertas que fazia, e a refugiar-me na firme crença da sua protecção quando algum perigo se me afigurava iminente. De cada vez que escapava a algum percalço, atribuía-o à sua intervenção diligente. Agradecia-lhe, convicta de que não precisava de o fazer, pois a sua dedicação e cuidado eram tão incondicionais na ausência quanto haviam sido na breve mas indelével presença. Os anos passaram e eu perdi a fé. Perdi-a nos anjos em geral, mas não neste, em particular.

4 de outubro de 2010

percursos alternativos... em jeito de faz-de-conta

(Edgar Degas, O Ensaio, 1873 -1878)
.
Retomo a vida no momento em que a academia ficou sem professora de Ballet. (Não, não passaram dois anos até que outra a substituísse e, no entretanto, eu perdesse a oportunidade de prosseguir). Pouco depois da sua saída, recebemos um professor. Mais raros nestas lides. E com ele voltaram, também, a disciplina, o rigor e a elegância. - "Plié, demi-plié, relevé!" - ordenava. A mão apoiada na barra, o olhar altivo mas nunca arrogante, a postura direita, a suavidade e delicadeza dos gestos... Ao piano, o executante marcava o ritmo. Foi assim que acabei por integrar as maiores companhias do mundo. Fui 'Prima Ballerina' no Royal Ballet, e 'Étoile' no Ballet da Ópera de Paris. Se hoje vos escrevo, é porque já me reformei.

1 de outubro de 2010

Outubro, o anfitrião

.
October gave a party;
The leaves by hundreds came -
The Chestnuts, Oaks, and Maples,
And leaves of every name.
The Sunshine spread a carpet,
And everything was grand,
Miss Weather led the dancing,
Professor Wind the band.
.
The Chestnuts came in yellow,
The Oaks in crimson dressed;
The lovely Misses Maple
In scarlet looked their best;
All balanced to their partners,
And gaily fluttered by;
The sight was like a rainbow
New fallen from the sky.

Then, in the rustic hollow,
At hide-and-seek they played,
The party closed at sundown,
And everybody stayed.
Professor Wind played louder;
They flew along the ground;
And then the party ended
In jolly “hands around.”

'October’s Party' de George Cooper (1838-1927)