27 de fevereiro de 2011

Cativeiro

(Captive, Paul Klee, 1940)

Em homenagem a todos quantos, corajasomente,
lutam pela liberdade individual e alheia.
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17 de fevereiro de 2011

Algún dia...

Algún dia te escribiré un poema que no
mencione el aire ni la noche;
un poema que omita los nombres de las flores,
que no tenga jazmines o magnolias.
Algún día te escribiré un poema sin pájaros,
sin fuentes, un poema que eluda el mar
y que no mire a las estrellas.
Algún día te escribiré un poema que se limite
a pasar los dedos por tu piel
y que convierta en palabras tu mirada.
Sin comparaciones, sin metáforas;
algún día escribiré un poema que huela a ti,
un poema con el ritmo de tus pulsaciones,
con la intensidad estrujada de tu abrazo.
Algún día te escribiré un poema, el canto de mi dicha.


(Darío Jaramillo Agudelo, 'Algún dia' in Poemas de Amor, 1986) .

8 de fevereiro de 2011

A(O)caso

* Quando no mesmo dia somos confrontados com a morte de duas pessoas conhecidas, mas não relacionadas entre si, assola-nos, de forma súbita e pungente, toda uma erupção de interrogações. Como por exemplo: qual é a probabilidade de uma tal coincidência ocorrer? Porque razão estas notícias nos encontram sempre desprevenidos, mesmo na iminência de sucederem? E se acontecem diariamente a tantos anónimos, porque nos parecem tão aberrantes quando tocam os que nos são próximos? (…) E, para além de muitas outras, ecoa persistentemente a ideia da incontrolabilidade do que é imponderável. Neste particular, qualquer pessoa é elegível, tudo depende de uma combinação de possibilidades aparentemente infinita e parcialmente aleatória. Senão vejamos: ele era idoso, ela era jovem; ele viveu para ver os netos, ela não presenciará o crescimento da filha; ele estava internado há duas semanas, ela lutava há anos com internamentos sucessivos; ele não teve muito sucesso, ela foi bem sucedida na curta carreira profissional; etc., etc., etc. Como se nota, não há propriamente um padrão, mas não sei se haverá unicamente acaso. Aliás, costumo dizer que o acaso nunca é uma variável desprezível, mas se assim fosse, a própria noção de acaso ficaria abalada… E no meio deste turbilhão de ideias lembrei-me de uma história que me contaram, tomada por lenda da tradição oral oriental, e que reza mais ou menos assim:

Num tempo longínquo, um abastado Senhor Árabe enviou um dos seus melhores serventes ao mercado de Bagdad. Pouco tempo depois de haver partido, o jovem regressa esbaforido e pálido, suplicando ao seu amo que lhe conceda os melhores cavalos que possui, a fim de escapar a toda a pressa para a distante Samarcanda. Surpreendido, o amo indaga a razão de tal pedido. Entre soluços, o servente explica-lhe que ao chegar ao mercado, uma mulher esguia, de capuz na cabeça e longas vestes negras, o havia fitado ameaçadoramente. Nesse momento, o jovem percebeu, aterrorizado, que se tratava da Morte. O seu amo, comovido com o acontecimento, concede os cavalos pedidos e o jovem põe-se imediatamente em fuga. Ainda mal refeito do sobressalto, o amo resolve ir ao mercado, ao encontro de dita figura. Ao vê-la, perguntou-lhe: -“Diz-me, Morte, porque fitaste ameaçadoramente o meu servente? Acaso não sabes que ele é jovem e bondoso?”, ao que a Morte terá respondido: -”O meu olhar não foi de ameaça, mas sim de surpresa, porque esta noite tenho marcado, com ele, um encontro em Samarcanda”.

*(Imagem: 'The Wheel of Fortune', Sir Edward Burne Jones, 1863, Musée d'Orsay)

2 de fevereiro de 2011

when Darwin meets Sophia...


Dois nomes incontornáveis nas respectivas áreas de actuação, a saber, Charles Darwin e Sophia de Mello Breyner, marcam encontro no Porto, na recém recuperada "Casa Andresen" (jardim botânico). Este interessante convívio assinala três factos notáveis: (1) a inauguração da magnífica exposição "A evolução de Darwin", que estará patente até ao próximo mês de Julho (e que alguns terão tido o privilégio de visitar há dois anos na Fundação Gulbenkian); (2) o arranque das comemorações do centenário da Universidade do Porto; (3) e, por fim, a abertura ao público da "Casa", anteriormente pertença de João Andresen, avô de Sophia. 
Como se nota, são múltiplos os pretextos para uma visita...
'Bora lá?

(retrato de Sophia por Arpad Szenes)
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