[David Mourão-Ferreira (24/02/1927 - 16/6/1996),
Paraíso In "Infinito Pessoal", 1959-1962]
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Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
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