. Lá em casa predomina o sexo feminino: em número e em espécie. Depois da humanídea e da canídea, não seria justo omitir a felídea. O retrato faz prova do seu temperamento: curiosa e um bocadinho altiva. E esta pose lembra-me invariavelmente o culto egípcio aos gatos. Em comum, temos o gosto pelo ronronar: ela por praticá-lo e eu por escutá-lo. Não há ansiolítico que se lhe compare...
A ‘melhor amiga’ lá de casa tem molas nos pés. Perdão, nas patas. Nos seus loucos 9 meses entrevê-se a alegria e inconsequência da ‘infância’. Imparável, saltita constantemente à nossa volta, pula declives que ultrapassam largamente o seu tamanho, corre desarvoradamente sem propósito e, automobilisticamente falando, chega "dos zero aos 100" em poucos segundos. . Se lhe atendemos, responde-nos com entusiasmo e carinho inexcedíveis: o rabo agita-se desvairado (de tal modo frenético, que esperamos vê-lo transformar-se numa hélice que a há-de levar pelos ares); os beijos incessantes (vulgo, lambidelas) atiram-se a tudo quanto alcançam; e se nos sentamos, senta-se connosco, assegurando-se de que não sobra um milímetro de espaço entre ambos. . Carinhosamente, debito pérolas que ofenderiam algumas sensibilidades, mas não a dela, que sabe que a adoro. Enquanto a observo vou dizendo: -“Quem tem uns bigodes de respeito? Mas onde já se viu uma loira com bigode? Não te aflijas. Os da tua espécie gostam assim…” Ela olha-me com aparente atenção, e eu lembro-me da publicidade que retrata os animais a ouvir ‘blá, blá, blá, blá, blá, blá…’ Sei que assim é. Mas sei também que, independentemente da linguagem verbal, o apreço e o entendimento são recíprocos.