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Para ler a velha arte, basta conhecer o alfabeto.
Para ler a nova arte devemos apreender o livro como uma estrutura,
identificar os seus elementos e compreender a sua função.
(Ulises Carrión, in "A Nova Arte de Fazer Livros", 1975)
"Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa" (Mª do Rosário Pedreira)

Longe vão os dias de 1909 que te viram nascer e crescer. Para mim sempre foste “velhinho”. Não porque o aparentasses, mas porque a data do teu BI mo sugeria. Nunca te ouvi lamentar a idade, nem as dificuldades, nem o passado. Sempre te vi de olhos postos no futuro, mesmo quando a contabilidade dos anos se aproximava da centena. Às adversidades que te derrubaram respondeste reerguendo-te. Ao desafio dos anos devolveste a indiferença de uma condição física e mental exemplar. Nunca desprezaste os jovens ou a juventude. Nunca desdenhaste do mundo e, pelo contrário, elogiavas-lhe os avanços e os dramáticos ganhos a que pudeste assistir e de que pudeste usufruir. Tu, que bem conhecias o sabor amargo da privação, não o esqueceste em prol de lamúrias e de fatalismos tão frequentemente atribuídos aos dias de hoje. Reconhecias que o mundo não é perfeito, mas que é bem melhor do que o conheceste. E, por fim, quando a doença sobreveio e percebeste que não a podias vencer, combateste-a como a todas as adversidades da tua vida: com serenidade, com determinação e até ao fim. Desta vez não venceste, querido “bisa”. Partiste. Mas fizeste-o com a mesma dignidade com que sempre viveste. Agradeço-te, por isso, o exemplo e a inspiração.