25 de novembro de 2011

A vida é feita (da soma) de pequenos nadas

Ontem como hoje: a eloquência de Sérgio Godinho
.
(Segunda-feira / trabalhei de olhos fechados
na terça-feira / acordei impaciente
na quarta-feira / vi os meus braços revoltados
na quinta-feira / lutei com a minha gente
na sexta-feira / soube que ia continuar
no sábado / fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas

Somos tantos a não ter quase nada
porque há uns poucos que têm quase tudo
mas nada vale protestar
o melhor ainda é ser mudo

E o que é certo
é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar

Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente
vai ficar aqui especada
à espera que a solução
seja servida em boião
com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno
às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas…


(Sérgio Godinho, "A vida é feita de pequenos nadas" In "Pano Crú", 1978)

6 comentários:

  1. Gosto muito deste poema, desta canção.
    Tem a beleza da "soma dos pequenos nadas"...
    Parabéns pela escolha!
    Abraço e reitero os votos de um bom fim de semana.

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  2. Aplausos, está tudo dito, o mais desfigura-se.

    5 bjs

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  3. Ah pois é, "a vida é feita de pequenos nadas".

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  4. Sem dúvida, amiga, esta é uma grande verdade. A vida é feita de pequenas (por vezes, quase imperceptíveis :)) maravilhas.
    Beijinhos.

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