26 de fevereiro de 2010

Venerável desobediência

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- "Bem sabe como aqueles campos funcionam, entra‑se e já não se sai." (...) Sentiu‑se encurralado. (...) O caminho era claro, só tinha duas opções e nenhuma lhe agradava. Obedecia às ordens e deixava aquele homem ser internado (no campo de concentração), com todas as consequências que daí adviessem, ou passava‑lhe os vistos e as suas hipóteses de salvamento aumentavam exponencialmente, mas Aristides sujeitar‑se‑ia a um processo disciplinar.
(In "O Cônsul Desobediente", Sónia Louro, 2009).

E sujeitou. Não só a um processo disciplinar, mas a terminar os seus dias à míngua, proibido de trabalhar, não só no governo, mas também na prática da advocacia, sua profissão. À doença sobreveio a morte solitária. Comprometeu a sua vida e em troca salvou outras 30.000. Trinta mil vidas salvas pela generosidade e abnegação de um homem só. E agora, por favor, alguém me explica porque não se fala de Aristides de Sousa Mendes? Nas escolas, na toponímia das ruas, nos rostos das esculturas, na televisão... Porquê?

6 comentários:

  1. Talvez se justifiquem duas questões:
    (1) porque os portugueses têm memória curta em relação à sua história colectiva recente; (2) a desobediência ao poder político instituído pode não ser entendida como um "bom exemplo".

    ... coisas que a história distraidamente silencia!

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  2. Já se publicou muito sobre ele, lembro-me que no concurso "O melhor Português" ficou nos 10 primeiros (embora o concurso fosse um chorrilho de politiquisse barata)Hoje o vento ameaça deitar a casa abaixo!ui!

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  3. Também me inclino a pensar que Portugal tem memória curta e que esta importante figura da nossa História é desconhecida de muitos (de demasiados, até). Mas também não tenho uma aferição exacta disto. Seja como for, acho que valia a pena incluí-lo nos manuais escolares, para "memória futura".
    E, sim, Via, por aqui o vento também não dá trégua. Oxalá seja o último fôlego do Inverno que não tarda a acabar :)

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  4. Bem lembrado, este nome e esta vida. Um pós-convencional, se quisermos utilizar uma linguagem que bem conhecemos. Uma raridade que talvez não convenha lembrar (em concordância com a segunda questão levantada pela Guidinha). A desobediência regida por princípios humanizantes poderá não ser compatível com a manutenção da "carneirada" ordeira e passiva.

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  5. Como sempre, muito bem dito, amiga. Não podia estar mais de acordo.

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  6. Justo é o filho justo e seu nome estará escrito no coração dos que ousam pensar e viver a liberdade. Eis o que é ser livre, poder optar até contra sí mesmo, em prol de uma certeza quase solitária.
    Este ilumina a raça humana e levanta memoriais que talvez mãos humanas não sejam capazes de levantar.

    devlesa

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