2 de junho de 2010

Alimentemo-nos de(stas) palavras

Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa.
Trouxe-as dentro das mãos fechadas (…)
Pousou-as na mesa e começou a abri-las devagar,
tão devagar como passa o tempo quando o tempo não passa.
E depois distribui-as pelos outros,
multiplicou-se em dedos, em palavras (alguém disse
que chegariam a todos, ultrapassariam os séculos e
teriam a duração do tempo quando o tempo perdura).(…)
Quando se ergueu, havia ainda palavras sobre a mesa,
coisas por dizer no resto do pão que alguém deixara (…)


(Maria do Rosário Pedreira, A última Ceia, in “A casa e o cheiro dos livros”, 1996)

6 comentários:

  1. Eugénio de Andrade tem um poema em que diz que "as palavras/são como um cristal,/as palavras./Algumas, um punhal,/um incêndio./Outras,/orvalho apenas.

    Julgo que estas são orvalho pois não conheço este livro.

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  2. Sim, Ana :) Para mim são como o orvalho "cristalino" numa manhã fresca de Verão. Uma delícia... Obrigada!

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  3. Maria do Rosário Pedreira é uma das minhas poetisas preferidas. Este poema é, como tantos outros da sua autoria, muito bonito. Na barra lateral do Letras há um link para um blogue que ela criou recentemente - Horas Extraordinárias.

    Aproveito para agradecer as visitas e os comentários - sempre simpáticos. :)

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  4. Olá Deep. Muito obrigada pela dica :) E não precisa de agradecer as visitas. É sempre um prazer espreitar os seus "papéis". Os comentários apenas reflectem isso mesmo :) Obrigada por passar por aqui e votos de um bom feriado!

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  5. Conhecia a poetisa de nome, mas nunca li nada dela. Agora, apetece! :) Compreendo que uses um dos seus versos no teu blog: são palavras que importa reter.
    Bom feriado!

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  6. Obrigada, Sara. Partilho da mesma opinião. São palavras que traduzem imagens muito belas. Um óptimo feriado para ti também :) Beijinho.

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