25 de junho de 2012

Diário de uma profissão


(Fotografia de Robert Doisneau, L'information scolaire, 1956)

Professora?
- Sim? – pergunto.
- O que deve fazer um psicólogo quando uma cliente se apaixona por ele?
Respondo apelando à ética e deontologia da profissão, e antevejo que este é apenas o mote para a pergunta verdadeiramente ansiada. Eis que ela surge de imediato:
- E nós? O que podemos fazer quando não queremos apaixonar-nos por alguém?
- Bem, nesse caso já está tudo feito – respondo.
A turma explode numa gargalhada colectiva, na qual participa o próprio que deliberadamente se deixara apanhar.
- Resta decidir como resolver a situação – acrescento, a custo, por cima do riso que a todos contagia.
Entre gargalhadas e sugestões mais ou menos inusitadas, uns e outros vão aconselhando o colega… Recuperada a compostura, retomo a aula acompanhada desta frequente constatação: uma turma é muito mais do que um grupo de alunos. É um caleidoscópio de vidas e experiências que desejavelmente não podemos adivinhar.

12 comentários:

  1. A fotografia é superior, o texto "apanha" o que há de melhor do ensino, a troca, a cumplicidade, o trabalho em conjunto. muito bom

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, caríssima via. O teu comentário também me anima "superiormente" :)
      Abraço grande!

      Eliminar
  2. Não é fácil adivinhar essas vidas e essas experiências, mas o contacto com elas pode ser para nós muito enriquecedor.

    Há uns anos, ofereceram-me um postal que é uma reprodução de uma imagem de Robert Doisneau, também numa sala de aula. Gosto tanto que acabei por emoldurá-la e pendurá-la numa das minhas paredes.

    Um abraço e votos de boa semana. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara deep, partilho da mesma opinião. E achei excelente a ideia de emoldurar o postal. Também gosto de arranjos improváveis :)

      Devolvo o abraço e os votos, em doses reforçadas!

      Eliminar
    2. Ai dos que não se interrogam

      e nos interrogam

      Bj

      Eliminar
  3. E é nessas horas que nos perguntamos todas: uma vez que a vontade de ajudar a construir pontes e asas invade as nossas vidas, fica quase impossível não se ver em cada rosto desses e pensar: mais do que ensino, aprendo a ensinar, me tornando assim uma eterna aprendiz.

    R, um dos post mais bonitos que já ví, de fotografia e alma.

    bjs meus

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muitíssimo obrigada caríssimas amigas. Revejo-me nas vossas palavras quando escrevem que a aprendizagem é um percurso infinito.

      Muito obrigada também pelos vossos ensinamentos e pelo cuidado e generosidade que permanentemente oferecem.

      Eliminar
  4. Gostei da metáfora!
    Boa semana e obrigada pelo comentário.
    Abraço! :)

    ResponderEliminar
  5. E quanto tacto, e quanta sensibilidade são necessárias para lidar com esse caleidoscópio...mas imagino que seja uma tarefa exaltante!

    ResponderEliminar
  6. Gostei, R., uma sala de aula é um microcosmos em constante expansão.

    Beijo :)

    ResponderEliminar
  7. Esta é a melhor parte da "carreira": os alunos. Disto, estou cada vez mais certa. Fizeste-me lembrar o "Diário" de Sebastião da Gama, que quero reler um dia destes: a sensiblidade do mestre, daquele que lá está, com eles, de coração e alma.

    Beijinhos!

    ResponderEliminar